VITAMINA D E O INVERNO

Durante o inverno podem ocorrer manifestações sazonais de doenças ou alterações ambientais que propiciam ou contribuem para mudanças na rotina e na saúde das pessoas. Manifestações dermatológicas, respiratórias, mas também alterações ligadas à incidência solar são comuns nessa época do ano e devem ter atenção especial e orientações a respeito das medidas não farmacológicas que devem ser realizadas.

Associada a essa questão está a deficiência de vitamina D, que tem aumento no inverno devido à redução da incidência de raios solares e à preferência em nos manter em lugares fechados. Além da sazonalidade, os níveis de vitamina D tendem a declinar com o passar dos anos e, dessa forma, é assunto relevante para a população idosa. Além disso, toca em um assunto da moda que são as reposições vitamínicas em geral com seus benefícios e riscos.

Sabemos que a deficiência de vitamina D provoca redução dos níveis de cálcio no sangue podendo causar alterações ósseas em adultos. Além disso, alguns estudos têm demonstrado que a deficiência de vitamina D subclínica está associada à osteoporose, aumento do risco de quedas e fraturas. Por outro lado, também temos estudos conflitantes que sugerem que altos níveis podem paradoxalmente aumentar o risco de fratura e ainda potencialmente aumentar os riscos de desenvolvimento de algumas neoplasias como próstata e pâncreas.

Pensando então nesses riscos e benefícios, qual seria a indicação de realizar exames de triagem dessa deficiência na população? Segundo o grupo da força tarefa americana (USPSTF), maior órgão internacional dedicado a padronizar indicações de exames de triagem, não existem trabalhos que mostrem os benefícios do diagnóstico e tratamento precoce e, desta forma, não recomenda realizar a triagem para adultos ou idosos.

Um dos fatores que contribui para a ausência de consenso na indicação da triagem é a igual incerteza dos níveis adequados de vitamina D no sangue. Recentemente a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) anunciou mudança nos valores de referência de normalidade de vitamina D, considerando aceitável valores acima de 20ng/ml. Nesse mesmo sentido, foi publicado um sumário de recomendações da Conferência Internacional sobre controvérsias em relação à vitamina D que define: deficiência de vitamina D < 12ng/ml, insuficiência entre 12 e 20ng/ml, níveis normais acima de 20ng/ml e risco de intoxicação em níveis acima de 100ng/ml.

Dessa forma, também é válido enfatizar os riscos relacionados à reposição de vitamina D sem indicação médica e/ou sem supervisão. Infelizmente, a moda de reposição vitamínica indiscriminada não é totalmente inócua. Algumas vitaminas, chamadas lipossolúveis, não são eliminadas pelo organismo, são elas as vitaminas A, D, E e K. Assim, podem acumular-se no organismo e trazer vários efeitos indesejáveis como fadiga, fraqueza muscular, náuseas, anorexia e desidratação, e até aumento dos níveis de cálcio desencadeando falência renal com necessidade de hemodiálise, as vezes irreversível.

Frente a isso, devemos enfatizar os riscos da automedicação em geral e entender que no caso específico da vitamina D existem benefícios e riscos tanto na realização do teste quanto na suplementação e deve ser seguida de perto por profissional competente. Ao contrário da deficiência de vitamina D, a ausência de avaliação médica para indicação dessa reposição traz igual risco em todas as estações do ano.

 

“Empenhe-se desde já em cuidar bem de si, porque envelhecer com saúde é um grande privilégio!”